Ficha técnica

Oficina baseada no espetáculo Flores Sertanejas.

Integrantes: Vânia Borges (canto) Gabriela Cerqueira (canto) Ademar Farinha (viola caipira) Thomas Howard (violão 7 cordas). Mirianêz Zabot (cantora convidada).

Pesquisa baseada em textos de Luis André do Prado (Saudades de Matão), Walter de Sousa (Moda Inviolada, uma História da Música Caipira) e Rosa Nepomuceno (Música Caipira - da roça ao rodeio), além do site Recanto Caipira.

www.recantocaipira.com.br

domingo, 29 de maio de 2011

SURGEM AS DUPLAS CAIPIRAS

Capitão Furtado



Até o final da década de 30, muitas investidas foram feitas e inúmeras duplas surgiram, dando início a um período áureo. A música caipira chegou ao rádio por meio de outro pioneiro, o também compositor Capitão Furtado (Ariovaldo Pires, outro caipira retratado sobrinho de Cornélio Pires), que comandou programas como o “Arraial da curva torta”, da Difusora, lançando e divulgando duplas que se tornaram sucesso, como Alvarenga e Ranchinho, Palmeira e Piraci, Zé Carreiro e Carreirinho. Os nomes de maior importância para a música caipira dos anos 30 e 40 foram, porém, os de Raul Torres e João Pacífico, assim como os anos 50 seriam da dupla Tonico e Tinoco (aliás, lançada pelo Capitão Furtado), período em que o gênero começou a ser mesclado a outros ritmos, como o bolero (com o sucesso de “Boneca Cobiçada”, com Palmeira e Bia) e a guarânia paraguaia (casos de “Índia” e “Meu Primeiro Amor”, com Cascatinha e Inhana, um dos maiores sucessos de venda de toda a história do disco no Brasil). 
Tonico e Tinoco


Cascatinha e Inhana






A INTRODUÇÃO DA MÚSICA CAIPIRA NO MERCADO FONOGRÁFICO

Séculos passaram-se e a música folclórica produzida no ambiente rural brasileiro ganhou forma, mas ainda permanecendo restrita ao seu meio. 
Com a chegada da indústria do disco ao Brasil, no início do século XX, ela ganhou maior repercussão e se transformou em “gênero” da música popular brasileira. Para que isso acontecesse, no entanto, foi necessário que houvesse alguém que “intermediasse” essa difícil relação entre o caipira isolado nos rincões do sertão e os donos de gravadora.
 Esse papel coube a Cornélio Pires. Dedicado a pesquisar e fazer palestras sobre o folclore do interior paulista, ainda em 1910, ele encenara na Universidade Mackenzie, capital de São Paulo, um velório típico dessa região, incluindo intérpretes autênticos do cateretê, fato que atraiu a atenção da intelectualidade paulistana, então empenhada em buscar elementos de afirmação para a cultura brasileira. 

CORNÉLIO PIRES E SUA TURMA CAIPIRA

Em 1922, o mesmo ano da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, Cornélio Pires, foi convidado a realizar diversas manifestações da arte caipira no Rio de Janeiro, durante as festividades do primeiro centenário da Independência brasileira. Nessas alturas, ele havia formado sua “Turma Caipira”, um grupo de músicos que, com ele, apresentava um misto de show-conferência, somando poesia, muito humor, música e danças rurais. A boa recepção o fez pensar que era chegada a hora de colocar em discos aquele material.

 O país contava, então, com poucas gravadoras (entre elas a Odeon, a Victor e Columbia), que tinham acabado de saltar da fase das gravações mecânicas para as elétricas (em 1926); a venda de aparelhos de som e de discos era, portanto, ainda bastante restrita.

Cornélio, mirando o futuro, decidiu bancar do próprio bolso aquele projeto de “sonhador”. Em maio de 1929, pleno ano do crash da bolsa de Nova York, saiu do forno uma primeira tiragem de seis discos 78 RPMs, com cinco mil cópias, contendo basicamente gravações de anedotas contadas por ele entremeadas de versos e faixas musicais, a cargo de sua “Turma Caipira”. A vendagem da série, hoje histórica (diferenciada pelo selo de cor vermelha e por numeração própria, iniciada em 20.000), foi realizada pessoalmente por Cornélio em dois carros que percorreram cidades do interior de São Paulo. 
Biografia de Cornélio Pires no site Recanto Caipira



AS GRAVADORAS DESCOBREM A MÚSICA CAIPIRA

A música “caipira” não constituía, ainda, um “gênero” ao qual artistas se dedicassem integralmente. Foi esse o mérito de Cornélio: descobrir um filão que se comprovou ser dos mais ricos – em amplo sentido. E rapidamente as gravadoras se deram conta do achado: as “bolachas” caipiras de selo vermelho esgotaram-se rapidamente, enchendo os olhos dos dirigentes da Columbia, que logo assinaram com ele um novo contrato para mais uma leva, prensada ainda em outubro de 1929, incluindo mais cinco discos caipiras, quando foi gravada a primeira moda de viola, “Jorginho do Sertão”, assinada por Cornélio e interpretado pela dupla Mariano e Caçula. Até o ínício de 1931, Cornélio produziu 43 discos de 78 RPMs, lançando outros intérpretes da música brotada da terra, como Sebastião Arruda, Zé Messias e Luizinho, Raul Torres (com o pseudônimo de Bico Doce) e outros. Não tardou, também, para que a concorrente RCA Victor lançasse sua "Turma Caipira Victor", sob o comando de Mandi e Sorocabinha (que, aliás, integraram antes a Turma do Cornélio), logo emplacando o sucesso "Casamento da Onça".

DANÇAS E RITMOS CAIPIRAS

CURURU

Quatro cantadores e um violeiro se desafiam por uma hora e meia, até completar a rodada; primeiro fazem a saudação aos santos e às pessoas presentes, depois escolhem a carreira, com a rima que vão adotar.

Depois as duplas começam os desafios. A mais engraçada ganha a simpatia da platéia, que torce e aplaude. Para atacar vale qualquer tema que combine com a ocasião, desde dizer que o adversário é pinguço e preguiçoso até brincar que um deles foi visto de fio dental na porta do mercado. Ninguém mexe com mulher dos outros nem com santos. No Mato Grosso, o cururu ainda é dançado em círculos, com batidas de pés.




A FOLIA DE REIS

Uma das festas mais populares, é a festa em que o caipira aparece reproduzindo a viagem dos Reis Magos a Belém, com cortejos de festeiros, portando bandeiras coloridas, comandados por mestres, capitães e violeiros, elas acontecem ainda em muitas regiões do país, especialmente no interior de SP, MG, MT e GO. Começam dia 24 de dezembro e vão até 06 de janeiro, dia de Reis.


CONGADAS E CALANGOS

Os negros trouxeram riquíssima contribuição à musica da roça. Ritmos e danças acompanhados por percussões, como lundus, batuques e congadas. Raul Torres, Alvarenga e Ranchinho, Tião Carreiro e Carreirinho eram fascinados pela música dos negros. Nas plantações das grandes fazendas, negros e caipiras conviveram e trocaram conhecimentos, irmãos na pobreza, no tipo de vida, na paixão pela musica. Cruzaram os santos e as crenças, os enfeites e as fantasias, a percussão, os requebros e a viola. As congadas ganharam força como manifestação africana, já aqui miscigenada aos traços culturais da terra. Viraram festas de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, conservando-se o cortejo real, com o Rei Congo e a Rainha Conga, seus guardas e embaixadas, expressando tradições tribais da Angola e do Congo. Esta festa acontece entre abril e dezembro e integram as comemorações aos santos, que incluem missas, novenas, procissões, etc.
Nesta festa, a comitiva peregrina de casa em casa, recolhendo donativos, rezando e cantando com as famílias. Para cada etapa, há um canto específico: à porta das casas, na saudação do presépio, no pedido de ofertas, no agradecimento e na despedida. Rabeca violão e pandeiro entram nos acompanhamentos. 

domingo, 22 de maio de 2011

A ALMA SERTANEJA ATRAVÉS DA MÚSICA

AS TEMÁTICAS 

Essa música surgiu na necessidade das populações caboclas expressarem suas emoções, contarem seus “causos” e homenagearem seus heróis. Com temática ampla, as letras caipiras descrevem, em cantos muitas vezes próximos ao coloquial, modos de vida, a luta pela sobrevivência, histórias trágicas e românticas, pontuadas por princípios morais, religiosos e éticos próprios ao ambiente da roça. 

terça-feira, 10 de maio de 2011

CATIRA OU CATERETÊ – O INÍCIO


Catireiros do Araguaia


As raízes da música caipira vão fundo no tempo, pelo que pode-se dizer, são genuinamente brasileiras. Em seu período mais antigo, encontramos, nos primórdios da colonização portuguesa, o padre José de Anchieta (1534 –1597) utilizando, em seu trabalho de conversão dos nativos ao cristianismo, a dança religiosa indígena caateretê (também conhecida por catira), em festas católicas como as de Santa Cruz, Divino Espírito Santo, Nossa Senhora e São Gonçalo, o santo violeiro.

Cantado em versos, o cateretê, adaptado às necessidades dos jesuítas, traduzindo para o tupi-guarani os temas do catolicismo, permitiu assim o contato com os indígenas.

 Teria sido esse, portanto, o primeiro gênero musical cantado no Brasil, bem antes da chegada dos negros, com suas influências rítmicas, e de outras contribuições vindas da Europa.

A partir dessa gênese, nossa música rural sofreu uma pacata evolução, ao longo dos séculos, guiada sempre pelas mãos do caboclo, figura controversa de nossa população, nascido das uniões entre índios e portugueses.

A CHEGADA DA VIOLA – INFLUÊNCIAS EUROPÉIAS


Os jesuítas trouxeram consigo a viola, conhecida na península Ibérica desde o século XV e usada pelos trovadores, que muitas vezes atuavam em dupla entoando cantigas e desafios.
A música que veio da roça, do caboclo – o cateretê – gênese musical, foi se desenvolvendo, ao longo dos séculos, e incorporando outras influências portuguesas, como a cantiga (forma antiga da música lusitana) e o desafio (canto “de improviso que provoca e o desafiante”).