Ficha técnica

Oficina baseada no espetáculo Flores Sertanejas.

Integrantes: Vânia Borges (canto) Gabriela Cerqueira (canto) Ademar Farinha (viola caipira) Thomas Howard (violão 7 cordas). Mirianêz Zabot (cantora convidada).

Pesquisa baseada em textos de Luis André do Prado (Saudades de Matão), Walter de Sousa (Moda Inviolada, uma História da Música Caipira) e Rosa Nepomuceno (Música Caipira - da roça ao rodeio), além do site Recanto Caipira.

www.recantocaipira.com.br

domingo, 29 de maio de 2011

A INTRODUÇÃO DA MÚSICA CAIPIRA NO MERCADO FONOGRÁFICO

Séculos passaram-se e a música folclórica produzida no ambiente rural brasileiro ganhou forma, mas ainda permanecendo restrita ao seu meio. 
Com a chegada da indústria do disco ao Brasil, no início do século XX, ela ganhou maior repercussão e se transformou em “gênero” da música popular brasileira. Para que isso acontecesse, no entanto, foi necessário que houvesse alguém que “intermediasse” essa difícil relação entre o caipira isolado nos rincões do sertão e os donos de gravadora.
 Esse papel coube a Cornélio Pires. Dedicado a pesquisar e fazer palestras sobre o folclore do interior paulista, ainda em 1910, ele encenara na Universidade Mackenzie, capital de São Paulo, um velório típico dessa região, incluindo intérpretes autênticos do cateretê, fato que atraiu a atenção da intelectualidade paulistana, então empenhada em buscar elementos de afirmação para a cultura brasileira. 

CORNÉLIO PIRES E SUA TURMA CAIPIRA

Em 1922, o mesmo ano da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, Cornélio Pires, foi convidado a realizar diversas manifestações da arte caipira no Rio de Janeiro, durante as festividades do primeiro centenário da Independência brasileira. Nessas alturas, ele havia formado sua “Turma Caipira”, um grupo de músicos que, com ele, apresentava um misto de show-conferência, somando poesia, muito humor, música e danças rurais. A boa recepção o fez pensar que era chegada a hora de colocar em discos aquele material.

 O país contava, então, com poucas gravadoras (entre elas a Odeon, a Victor e Columbia), que tinham acabado de saltar da fase das gravações mecânicas para as elétricas (em 1926); a venda de aparelhos de som e de discos era, portanto, ainda bastante restrita.

Cornélio, mirando o futuro, decidiu bancar do próprio bolso aquele projeto de “sonhador”. Em maio de 1929, pleno ano do crash da bolsa de Nova York, saiu do forno uma primeira tiragem de seis discos 78 RPMs, com cinco mil cópias, contendo basicamente gravações de anedotas contadas por ele entremeadas de versos e faixas musicais, a cargo de sua “Turma Caipira”. A vendagem da série, hoje histórica (diferenciada pelo selo de cor vermelha e por numeração própria, iniciada em 20.000), foi realizada pessoalmente por Cornélio em dois carros que percorreram cidades do interior de São Paulo. 
Biografia de Cornélio Pires no site Recanto Caipira



AS GRAVADORAS DESCOBREM A MÚSICA CAIPIRA

A música “caipira” não constituía, ainda, um “gênero” ao qual artistas se dedicassem integralmente. Foi esse o mérito de Cornélio: descobrir um filão que se comprovou ser dos mais ricos – em amplo sentido. E rapidamente as gravadoras se deram conta do achado: as “bolachas” caipiras de selo vermelho esgotaram-se rapidamente, enchendo os olhos dos dirigentes da Columbia, que logo assinaram com ele um novo contrato para mais uma leva, prensada ainda em outubro de 1929, incluindo mais cinco discos caipiras, quando foi gravada a primeira moda de viola, “Jorginho do Sertão”, assinada por Cornélio e interpretado pela dupla Mariano e Caçula. Até o ínício de 1931, Cornélio produziu 43 discos de 78 RPMs, lançando outros intérpretes da música brotada da terra, como Sebastião Arruda, Zé Messias e Luizinho, Raul Torres (com o pseudônimo de Bico Doce) e outros. Não tardou, também, para que a concorrente RCA Victor lançasse sua "Turma Caipira Victor", sob o comando de Mandi e Sorocabinha (que, aliás, integraram antes a Turma do Cornélio), logo emplacando o sucesso "Casamento da Onça".

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